As três rodas estão, regra geral, associadas às scooters e a motos pouco potentes e amigáveis para o dia a dia. Pois bem, a Yamaha quebrou o estereótipo em 2018 com a apresentação da primeira geração da Niken, que agora renasce na versão GT com muitas melhorias.
É importante não confundir a Niken com uma scooter de três rodas, pois as semelhanças são poucas ou mesmo nenhumas. E vamos falar de tudo o que a Yamaha repensou para tornar a Niken GT uma moto mais turística, desde as malas laterais rígidas de 30 litros, ao ecrã dianteiro ajustável em 70 mm, mas também das capacidades fantásticas deste modelo em colocar-nos um sorriso rasgado na cara em estrada sinuosa. E isso foi algo que não faltou na Sardenha.
CORAÇÃO DE MARATONAS
O motor tricilíndrico da Niken pode ser o mesmo CP3 que testámos na Tracer 9 GT+, mas possui alterações internas que lhe permitem ter um comportamento diferente e agradar mais aos fãs de longas tiradas. A cambota sofreu modificações e ficou mais pesada 8%, de forma a criar maior inércia para que o motor vá mais relaxado, e sentimos isso, que temos um CP3 mais solto em estrada aberta. O mesmo foi também inclinado 5 graus para a frente e revisto internamente, de forma a influenciar positivamente a agilidade e estabilidade da moto. Com mais 42 cc que a sua antecessora, a nova Yamaha Niken GT conta agora com o binário máximo 1.500 rpm mais cedo, proporcionando melhor aceleração.
Contudo, e devido aos seus 270 kg em ordem de marcha, sentimos que esta moto deveria beneficiar de um maior binário em médios regimes – até no modo Sport – mesmo sem mexer na potência máxima. As vibrações foi também algo que se fez sentir em altas rotações, muito por culpa da nova cambota mais pesada, tornando-se notórias a partir das 7.000 rpm, onde este CP3 quer mostrar toda a sua alma. Esse não seria um ponto muito em destaque, não fosse essa a rotação aproximada a que circulamos por volta dos 140 km/h.
Não foi assim obtido um compromisso perfeito, uma vez que uma relação mais longa irá retirar ainda mais a capacidade de resposta desta moto em médios regimes, algo que referimos ser um ponto a melhorar. Ainda assim, sabemos bem o potencial deste motor e certamente a Yamaha irá recolher todo o feedback para que num futuro próximo consigam atingir um compromisso onde as vibrações não sejam um problema.
A DIANTEIRA MÁGICA
Em termos de ciclística a Niken GT está agora mais equilibrada, em grande parte devido ao amortecedor traseiro revisto em conjunto com o quadro – que foi obrigatoriamente modificado pelo novo posicionamento do motor – que transmite agora mais confiança e oferece maior estabilidade em condução aplicada e conforto acrescido em viagem. E equilíbrio é mesmo a palavra de ordem, uma vez que a Yamaha afirma que a distribuição de peso é de 50:50, com um condutor de 75 kg. Mas a estrela da companhia é o sistema LMW que ainda hoje nos faz pensar sobre as leis da física ao andar nesta moto. Depois das primeiras sensações algo estranhas, entranha-se, e começamos a ganhar uma confiança inacreditável para atacar as curvas com esta moto. A estabilidade que temos nas mais diversas situações enquanto vamos inclinados é muito grande, e o limite da dianteira é bem mais longínquo do que o de uma moto comum. Sentimos inclusive – em certas situações em que o ângulo de inclinação era mais elevado – que a roda dianteira do lado interior da curva estava a protestar um pouco, mas a roda de fora parecia não se importar muito, mantendo a Niken bem agarrada ao asfalto.
A absorção das irregularidades do piso é feita de forma quase impercetível, sem nunca perdermos a leitura do que está a acontecer no que diz respeito aos limites de aderência, e isto deve-se também ao sistema dianteiro – que é efetivamente uma obra de engenharia fantástica por parte da Yamaha; e iríamos precisar de mais 4 páginas para o explicar. Ainda assim, é importante ter em atenção que a abordagem às trajetórias deve ser feita de forma um pouco diferente de uma moto de duas rodas e temos mesmo de conduzir esta Niken GT de uma forma um pouco diferente – quase utilizando a roda de fora como o “centro” da moto – não só devido ao seu peso, mas à forma como a dianteira se comporta em curva, sendo necessário muitas vezes ser mais agressivo nas inclinações e confiar que as duas rodas farão o seu trabalho. Contudo, a travagem é uma grande ajuda e pode ser um recurso a utilizar, uma vez que é muito eficaz, e com o sistema dianteiro da Niken temos alguma liberdade para travar em plena curva com a moto inclinada, ainda que não seja a situação ideal.
VIAGEM TECNOLÓGICA
Temos de começar pelo painel de instrumentos e dizer que a navegação, dentro dos menus e definições deste novo painel TFT de 7” da Yamaha, merece de facto ser elogiada. Com um pequeno joystick de 5 direções conseguimos fazer tudo de forma muito intuitiva e sem dúvidas, permitindo estar imediatamente em sintonia com este lado da Niken GT. Já as informações apresentadas e a sua disposição são igualmente bem concebidas, oferecendo excelente visibilidade em qualquer situação e a informação necessária, sendo sempre possível consultar mais em diferentes menus. Podemos ainda integrar mapas Garmin com um custo de 5€ por mês, o que poderá ser um bom complemento para os viajantes. Viajantes esses que vão ficar agradados certamente com o assento bem generoso e confortável, assim como a proteção eficaz do defletor dianteiro ajustável.
O assento do passageiro é também ele bastante generoso – não vamos explicar como conseguimos testar isso – e as malas laterais rígidas de 30 litros de série permitem arrumar bagagem bem generosa para duas pessoas. Mas voltando um pouco ao lado tecnológico, esta moto conta ainda com três modos de condução diferentes – Sport, Street e Rain – que se fazem sentir de forma notória, sendo que no modo RAIN a moto reduz a sua potência em 18% de forma que a condução fique mais amigável, tudo isto através de um novo acelerador eletrónico. A Niken GT dispõe ainda de cruise control de série, algo que será indispensável para os viajantes, e um quick shifter bidirecional – também ele de série – muito eficaz, e que diria, ser indispensável para os que procuram emoção a cada curva.
O UNICÓRNIO
No fim do dia, a Yamaha Niken GT é um unicórnio no deserto. E a Yamaha sabe disso. O público-alvo desta moto é extremamente específico e nunca será uma rainha de vendas, mas esse não é o propósito. A Niken GT está, em 2023, uma moto muito divertida de conduzir e é capaz de oferecer a qualquer um – seja qual o for o nível de pilotagem – belos momentos de prazer e largos quilómetros sem parar. É certo que há pormenores que devem ser alvo da atenção da Yamaha, por forma a aperfeiçoar esta moto, mas o conjunto agradou bastante e deixou sorrisos rasgados na cara de todos os presentes. E quem não gostaria de ter um unicórnio na garagem?
YAMAHA Niken GT
MOTOR 3 cilindros paralelos, CP3, refrigeração líquida
CILINDRADA 890 cc
POTÊNCIA 84,5 kW (115 cv) @10.000 rpm
BINÁRIO 90,7 Nm @7.000 rpm
CAIXA 6 velocidades
QUADRO alumínio em forma de diamante
DEPÓSITO 18 litros
SUSPENSÃO DIANTEIRA sistema LMW ajustável de 43 mm / 41mm, curso de 110 mm
SUSPENSÃO TRASEIRA monoamortecedor com ajuste de pré-carga e extensão, curso de 125 mm
TRAVÃO DIANTEIRO 2 discos de 298 mm
TRAVÃO TRASEIRO disco de 282 mm
PNEU DIANTEIRO 2x 120/70R15M
PNEU TRASEIRO 190/55R17M
DISTÂNCIA ENTRE EIXOS 1.510 mm
ALTURA DO ASSENTO 825 mm
PESO 270 kg
P.V.P. (desde) 18.500€