Quando pensamos em Barcelona pensamos numa grande cidade europeia com trânsito e poucos locais para curvas e contracurvas. Mas há tesouros escondidos a poucos minutos do centro da cidade; pouco trânsito, estradas encadeadas e paisagens incríveis.
A convite da QJ Motor fomos até aos arredores de Barcelona com uma proposta: testar 5 modelos diferentes apenas numa manhã. O objetivo era ter um primeiro contacto com as motos que estarão nos concessionário em breve, e perceber as suas qualidades e defeitos numa primeira abordagem. Apesar do tempo limitado com cada uma das motos, a boa organização do evento permitiu retirar boas ilações dos modelos.
SRV 300
A SRV 300 (preço de 4.890 €) foi uma agradável surpresa por diversas razões, entre elas o som do bicilíndrico em V que se revelou bastante agradável, com os seus 296 cc e 30,7 cv de potência. Mas o seu maior trunfo foi de facto o equilíbrio do conjunto. Travagem, suspensões, motor, quadro, tudo isto em concordância proporciona a esta moto um excelente compromisso e fator de diversão. Os pousa-pés queixaram-se um pouco ao longo do dia devido à baixa altura ao solo, mas muito por culpa nossa. A apontar temos algumas vibrações excessivas, principalmente em rotações mais elevadas mas já muito perto do corte de motor, não sendo uma faixa de rotação que vamos andar com frequência nesta moto. A SRV300 pode ter sido a moto mais “pequena” que testámos durante o dia em Barcelona, mas certamente não se deixou melindrar pelas suas companheiras de marca, oferecendo muito, por pouco. Mais, de todos os modelos, foi aquele que revelou melhor tato ao nível da travagem, algo que se revelou um ponto negativo bem patente nos modelos maiores.
SRV 550
À semelhança da SRV 300, a SRV 550 (PVP de 5.990 €) vence pelo seu conjunto muito equilibrado. O motor é um bicilíndrico paralelo de 554 cc que debita 47,5 cv e o som não é o mesmo do modelo custom, mas revelou-se bastante agradável também. Por ser uma moto um pouco mais potente, começámos a notar algo que se foi revelando um detalhe importante – e que já referimos acima – nos modelos seguintes também. A travagem demonstrou pouca sensibilidade e tato, fazendo duvidar por vezes da sua eficácia, apesar de nunca ter falhado quando bem pressionada e nos momentos importantes. Apesar disso a posição de condução da SRV 550 é bastante natural e permite ainda bons momentos de diversão em estradas sinuosas.
SRK 700
A SRK 700 despertou a curiosidade de todos instantaneamente e depois de percebermos o tipo de estradas que tínhamos pela frente, todos quiseram pegar nesta moto. E comecemos pelo maior defeito. A travagem – assim como o que já reportámos na SRV 550 – algo que ainda foi mais notório na SRK 700 pela sua maior potência e capacidade de atingir velocidades mais elevadas em distâncias menores. A maior qualidade? A agilidade e capacidade de inserção em curva desta moto que, mesmo com os seus quase 200 kg, não se fez rogada no ataque às curvas. O motor também nos agradou bastante, contando com dois cilindros em linha, 698 cc e 73,4 cv de potência. O bloco é bastante enérgico e não se mostrou desconfortável em baixas rotações, revelando energia nos médios e altos regimes, tornando esta moto bem divertida de se conduzir em estradas bem encadeadas. A injeção eletrónica revelou ser algo brusca quando o tipo de condução se altera também. Ao fecharmos totalmente o acelerador, assim que voltamos a querer potência no punho direito sentimos que a SRK 700 entrega tudo demasiado rápido, tornando a resposta do acelerador algo brusca. Não sendo isto o ideal, é algo a que nos habituamos ao fim de alguns quilómetros, mas com ajustes de eletrónica podem facilmente tornar esta moto mais amigável e divertida, sem que seja necessária uma atenção redobrada ao rodar o punho direito. Esta moto apresenta um preço de 6.890 €.
SRT 550
Talvez a moto que nos tenha deixado mais desapontados, por um conjunto de pontos e circunstâncias. A SRT 550 ( preço de 6.590 €) está inserida numa gama com muita e boa concorrência e a expetativa era algo elevada. Contudo, a posição de condução foi, para nós, o maior calcanhar de aquiles deste modelo, onde sentimos que o guiador era demasiado estreito e chegado a nós, e a posição sentado na moto estava demasiado baixa para uma ergonomia natural. O motor revelou-se agradável em toda a faixa de rotação, mas com 554 cc e 47,5 cv de potência, juntamente com um peso em ordem de marcha de 235 kg, beneficiaria claramente se tivesse um maior binário na faixa intermédia. Ao nível da ciclística, a SRT 550 foi também possivelmente a que mais pecou, muito por culpa de um corpo algo sobredimensionado para o coração que lhe dá vida.
SRT 800 E SRT 800X
Sim, é verdade, a moto em que aparecemos a circular é a SRT 800 (8.490 €), sem jantes raiadas, e foi de facto aquela com que circulámos mais tempo. Ainda assim, as diferenças para a versão X (8.990 €) no que diz respeito ao seu comportamento a nível da ciclística não são colossais, fazendo-se notar a roda de 19” na dianteira na entrada em curva, com um comportamento ligeiramente diferente, mas que ajuda na absorção de irregularidades. Os pneus que equipam ambos os modelos também são naturalmente diferentes, com os Pirelli Angel GT a equiparem a versão de rodas 17 e a versão X a estar equipada com pneus Maxxis.
À semelhança da SRT 550, e apesar de possuir maior cilindrada e potência (conta com 754 cc e 76 cv) sentimos alguma falta de binário nos médios regimes, uma vez que falamos de uma moto com um peso de 260 kg em ordem de marcha. Ainda assim, o motor revelou-se bastante agradável em velocidades estabilizadas, apresentando poucas vibrações.
PONTOS COMUNS E DIFERENÇAS
Aqui é importante referir que a QJ Motor decidiu equipar todos os modelos que testámos com componentes próprios, ou seja, a suspensão dianteira, amortecedor traseiro e travões são todos fabricados pela própria marca, com a STR 700 a ser a única que equipa suspensões Marzocchi e travões Brembo, mas essa não nos foi facultada para teste. Isto indica um sinal de crença no produto e de que pode ser feito algo de bom com os componentes fabricados dentro de portas. Ainda assim, pode também ter uma desvantagem. Os defeitos de um modelos podem ser transpostos para os outros. Aqui, a travagem foi efetivamente o ponto mais notório – como temos vindo a referir – com todos os modelos a evidenciarem falta de tato e sensações na manete direita. Mas também foi evidente que o conjunto de todos as motos é bastante equilibrado e apresenta potencial de desenvolvimento. Apesar da gama ser bastante distinta, olhando para o conjunto de todas as motos a sensação geral é a mesma, e terminámos o dia com “saldo positivo” nestas QJ Motor!
VEREDITO FINAL
A QJ Motor está a entrar em força nos mercados europeus e Portugal não é exceção. Com estes cinco modelos diferentes foi possível comprovar que o grupo Qianjiang quer dar relevância à sua própria marca e se fossem necessárias mais provas, equipar todas as motos com componentes próprios diz bem o quanto o enorme grupo chinês está a apostar na QJ Motor. Contudo, não é fácil competir com os grandes tubarões da engenharia das duas rodas. Há marcas que há muito estão cimentadas, outras têm vindo a deixar o seu cunho e a crescer de forma significativa.
Ainda assim, e apesar de ter sido notório algumas lacunas – talvez fruto da terna idade da marca – como o tato dos travões ou a injeção mais brusca, foi percetível também que há uma boa base para se trabalhar. Conhecimento e capacidade económica não faltam à QJ Motor para se afirmar no meio dos grandes das duas rodas e os próximos anos prometem ser de grande disputa, não só entre marcas europeias e japonesas, mas também chinesas, até porque aqui o preço é outro ponto a favor, assim como os 6 anos de garantia!