A Ural prepara-se para uma das mudanças mais profundas da sua história. Conhecida por manter viva a tradição dos sidecares de inspiração militar, a marca decidiu virar a página e apostar num modelo completamente novo, pensado para garantir a sua sobrevivência financeira. O projeto chama-se Ural Neo 500 e deverá chegar ao mercado em 2026 com um objectivo claro: baixar drasticamente o preço de entrada no universo Ural.
Para atingir esse valor mais competitivo, estimado abaixo dos 13.000 euros, a empresa tomou uma decisão estratégica difícil, mas assumida sem rodeios. A produção passa a estar ligada à China, através de uma parceria com a Yingang, fabricante que fornece a base técnica do novo modelo. Assim nasce a submarca Ural Neo, criada para distinguir claramente esta nova abordagem dos sidecares clássicos da casa.
A mudança sente-se logo na mecânica. O tradicional motor bóxer dá lugar a um bicilíndrico paralelo de 452 cc, com refrigeração líquida e arquitetura moderna. Com uma taxa de compressão de 11,2:1, este motor debita cerca de 45,6 cv e um binário máximo de 41 Nm, valores geridos por uma caixa de cinco velocidades equipada com marcha-atrás, indispensável num conjunto com sidecar.
Esta escolha não é apenas técnica, mas também regulamentar. O novo motor permite cumprir normas ambientais actuais e reduzir custos de produção, algo que se tornou essencial após vários anos de prejuízos acumulados. Segundo Ilya Khait, CEO da Ural, a tentativa de manter a produção clássica através da montagem no Cazaquistão revelou-se financeiramente insustentável, com perdas em cada unidade vendida.
A pressão aumentou ainda mais com o agravamento dos direitos aduaneiros em 2025, sobretudo para o mercado norte-americano, que continua a ser o principal destino da marca. Produzir nos Estados Unidos foi analisado, mas rapidamente descartado devido ao impacto direto no preço final. A solução chinesa acabou por ser a única opção viável para manter a empresa viva.
Esteticamente, a Ural Neo 500 rompe com o passado. Em vez de referências históricas, aposta numa imagem mais próxima do segmento Adventure, com carenagem frontal, pára-brisas e um pacote tecnológico inédito na marca. Destaca-se o painel TFT vertical de 7 polegadas e a presença de uma câmara frontal integrada, pensada tanto para segurança como para registo de viagem.
Na parte ciclo, a Ural manteve alguns elementos essenciais à estabilidade de um sidecar, como a suspensão dianteira de braço oscilante tipo leading link. O peso ronda os 334 kg, muito próximo dos modelos clássicos. Em contrapartida, desaparece a tração à roda do sidecar, uma característica emblemática das Ural tradicionais, o que limita as ambições fora de estrada mais exigentes.
Esta viragem estratégica deixa o futuro das Ural bóxer em suspenso. A fábrica de Irbit continua ativa, mas focada exclusivamente no mercado russo, com exportações interrompidas. A marca fez questão de separar claramente os dois mundos, reservando o nome Neo para a nova gama e preservando a identidade clássica para quando o contexto geopolítico o permitir.
Segundo a própria Ural, o sucesso comercial da Neo 500 será decisivo não só para o futuro da empresa, mas também para garantir peças e apoio técnico aos modelos antigos. Um protótipo já circulou em estradas norte-americanas e o lançamento oficial está apontado para maio de 2026.














