O reaparecimento de um motor V4 nos registos de patentes da Honda não é um simples exercício técnico nem um acaso de engenharia. É um sinal claro de intenção estratégica. Num momento em que a indústria se debate com normas ambientais cada vez mais restritivas e com a uniformização técnica dos motores em linha, a marca japonesa volta a investir numa arquitetura que sempre definiu a identidade da VFR e que a distinguiu no segmento das sport-touring de alta performance.
Desde a saída de cena da VFR800, em 2022, a Honda deixou um vazio num espaço muito específico do mercado: o de uma moto capaz de combinar desempenho desportivo consistente, fiabilidade de longo curso e uma personalidade mecânica única. As novas patentes agora conhecidas apontam precisamente para essa lacuna, revelando o desenvolvimento avançado de um V4 compacto, com foco claro na eficiência interna, na redução de perdas mecânicas e numa gestão térmica mais sofisticada do que em gerações anteriores.
A documentação técnica mostra um trabalho profundo ao nível da lubrificação e da refrigeração, dois pontos críticos em motores V4 modernos. A adoção de novos circuitos de óleo, reservatórios internos integrados no cárter e uma atenção especial à bancada traseira indicam que a Honda está a resolver limitações históricas deste tipo de configuração, preparando-a para cumprir futuras normas Euro sem sacrificar caráter ou prestações. Este detalhe é essencial para perceber que não se trata de um exercício experimental, mas de um motor pensado para produção em série.


Outro dado revelador é a ausência de qualquer solução por veio de transmissão. Ao abdicar do cardã, a Honda regressa à filosofia técnica que sempre definiu a VFR clássica, afastando-se da abordagem mais pesada e controversa da VFR1200. Esta escolha sugere uma moto mais leve, mais direta na resposta ao acelerador e claramente posicionada acima das sport-touring convencionais, mas abaixo de uma superbike pura.
Tudo isto aponta para uma possível VFR de nova geração que poderá assumir um papel charneira na gama Honda. Um modelo capaz de coexistir com as CBR, sem competir diretamente com elas, oferecendo uma alternativa premium para quem procura performance real, utilização diária e um motor com identidade própria. Num mercado saturado de soluções semelhantes, o simples regresso do V4 pode ser, por si só, o maior trunfo da futura VFR.


A grande incógnita já não é se a Honda está a preparar algo, mas quando decidirá mostrar ao mundo o primeiro protótipo funcional. Se o desenvolvimento continuar ao ritmo sugerido pelas patentes, 2026 surge como um horizonte plausível para a apresentação de uma nova VFR, marcando não apenas o regresso de um nome icónico, mas também a afirmação de que ainda há espaço para engenharia com personalidade no universo das motos desportivas modernas.
Imagens: motorradonline













