Com a época de MotoGP de 2024 prestes a começar, recordamos a nossa ida ao Circuito Internacional do Algarve em Portimão na época de 2023. Três scooters com apenas um destino, o Campeonato do Mundo de MotoGP.
Juntar trabalho com diversão é sempre o ideal! Por isso este ano resolvemos ir até ao MotoGP de Portimão com um grupo de colegas e amigos. Faltavam as motos, por isso pegámos em três scooters de média cilindrada e seguimos viagem. Terão estes três modelos as capacidades mínimas para uma viagem de cerca de 750 quilómetros, com segurança e conforto? É o que fomos tentar descobrir!
Neste início de trabalho importa desde logo esclarecer que este não é um comparativo tradicional, embora possamos retirar bastante conclusões. Importa mais mostrar como é que três scooters, excelentes para uma utilização diária na cidade e arredores, se comportarão numa pequena viagem. Também sabemos que, e apesar de pessoalmente apreciar muito automáticas – especialmente nesta cilindrada entre os 300 e os 400 cc – é perfeitamente compreensível que estas não sejam as motos mais entusiasmantes para uma condução desportiva numa estrada de serra a caminho das corridas. Nem sequer para circular no meio de milhares de motos, com matrículas de diversos países, em que procuramos sempre encontrar as motos mais “racing” ou as mais peculiares que raramente encontramos em Portugal. E no meio de tanto barulho, habitual nestas provas, é também estranho acelerar com estas automáticas e pouco ou nada ouvirmos, como se estivéssemos aos comandos de elétricas. Ainda assim, o panorama está mesmo a mudar, e se antes o estacionamento de um GP era composto em 90% por motos desportivas hoje em dia já não é bem assim. Mas, adiante!
OS MODELOS
Desta forma juntámos três scooters relativamente semelhantes mas que se podem dividir da seguinte forma: a C 400 X é a mais citadina das três, por possuir menos proteção aerodinâmica e por existir na gama da BMW uma versão GT mais adaptada às viagens, com mais proteção e conforto. A Honda ADV 350 possui um espírito de aventura claro, baseado na maior X-ADV e até na própria Africa Twin, através de um guiador largo, suspensões de elevado curso e pneus mistos. Quanto à XMAX 300, é a típica maxi-scooter, aqui numa versão Tech Max ainda mais exclusiva e requintada, embora ainda na versão 2022, já que o modelo ’23 iremos testar muito em breve aqui na revista. Dizer ainda que neste viagem levámos um passageiro, que foi alternando entre as três scooters, e que Honda e BMW tinha top-case instalado, por isso já estão a imaginar quais é que o Miguel Fragoso (sim, é o irmão do nosso ilustre jornalista) normalmente escolheu…
BMW C 400 X
É a mais cara do lote, mesmo sem pensarmos nos extras, mas também a que mais de destaca nas prestações, em especial na aceleração. Se fizermos conta aos opcionais que este modelo disponibilizava (luz diurna em LED, condução sem chave, banco e punhos aquecidos, instrumentação TFT com conetividade, etc), então o valor total ultrapassa mesmo os 9.000 euros. Uma scooter com um motor monocilíndrico que debita 25 Kw de potência e 35 Nm de binário, não sendo o mais suave no momento do arranque mas que imediatamente deixa de “bater” para oferecer excelentes acelerações e recuperações, com um vigor que entusiasma o condutor. Monta, tal como todas as outras, uma roda de 15 polegadas à frente e 14” na retaguarda (excelentes Pirelli), e o peso em ordem de marcha é de 206 kg, sendo a única que monta dois discos de travagem na frente. O sistema Flex Case para guardar um capacete (ou outros objetos) no interior é bom na teoria, mas na prática a C 400 X oferece sempre menos espaço para arrumação, o que é um contra. Na instrumentação TFT (opcional) podemos escolher uma leitura muito simples e prática, mas este painel esconde muitas e boas informações, além de ser um útil painel de GPS.
HONDA ADV 350
É uma novidade ainda relativamente recente no fabricante japonês, distinguindo-se da Forza 350 em especial pela ciclística e posição de condução. O motor monocilíndrico debita 21,5 Kw de potência e o binário máximo é de 31,5 Nm, num conjunto com 186 kg em ordem de marcha. Dos três modelos é a única que incorpora para-brisas ajustável em altura, assim como uma forquilha invertida na frente. Neste caso importa dizer que esta é mesmo uma scooter com ADN off-road, pois à nossa frente temos um guiador largo despido e uma altura mínima ao solo de 145 mm. Os amortecedores traseiros Showa têm também excelente aspeto e os pneus são os mistos Metzeler Karoo Street.
YAMAHA XMAX 300 TECH MAX
Nós levámos uma versão 2022 mas a topo de gama Tech Max, portanto repleta de pormenores exclusivos. Assento e punhos especiais, pousa-pés em alumínio, almofadas específicas nos porta-luvas, outros grafismos, etc, estão em destaque numa scooter que, tal como as restantes, possui controlo de tração e ignição keyless. A instrumentação ’22 é ainda composta por grandes mostradores analógicos mas gostamos muito da quantidade e da qualidade (simples) da informação que nos é dada, assim como da enorme capacidade de carga sob o assento e através dos dois porta-luvas dianteiros. O motor monocilíndrico debita 20,6 Kw de potência e o binário máximo é de 29 Nm, com esta XMAX a apresentar um peso de 180 kg e a montar pneus Michelin que são mais citadinos / turísticos do que propriamente desportivos.
EM ESTRADA
O nosso percurso foi simples. Alguma autoestrada inicial, primeira paragem para algumas fotos e descanso do pessoal em Alcácer do Sal e depois estrada nacional até São Marcos da Serra, onde nos aventurámos pela Serra de Monchique até alcançarmos o AIA. No caminho de regresso a mesma coisa, a que se somaram as paragens obrigatórias para gasolina e bifanas!
Primeiro aspeto a destacar: cada uma à sua maneira, são todas excelentes, e só trocando de scooter no mesmo dia é que percebemos onde cada uma se destaca. Na Yamaha gostámos muito da qualidade dos acabamentos, espaço de carga e suavidade do motor. O monocilíndrico apresenta um bom arranque (não é fortíssimo), mas precisa de menos rotação que os motores dos rivais – parece seguir sempre sem esforço aparente – e alonga muito, a que se junta um menor travão motor. Isto significa que embalada alcança com facilidade velocidades em redor dos 155/160 km/h, e é sempre a que gasta menos combustível. Embora esta scooter tenha circulado sem top-case e tenha feito menos km’s com passageiro, a média rondou os 3,4 l/100 km num ritmo despachado!
Em alguns aspetos nota-se no entanto o peso dos anos no conjunto, especialmente em dois aspetos: os amortecedores traseiros são algo limitados, especialmente quando o asfalto não é completamente liso (ficando algo saltitona); as manetes de travão ficam demasiado longe da mão (sem regulação) e apresentam um tato demasiado duro, obrigando a alguma força para rápidas paragens. Não é a mais emotiva na condução mas é uma scooter de qualidade, oferecendo igualmente uma boa iluminação e muitos detalhes premium.
A BMW é claramente a mais entusiasmante na condução. O motor é forte, a condução é divertida e apresenta uma boa potência de travagem, com um excelente tato das manetes apesar destas não terem regulação. Sentimos que apresenta um centro de gravidade relativamente baixo e as rodas parecem ir sempre coladas ao chão, quase como se fosse uma comum moto de estrada, com segurança e bastante aderência dos Pirelli. Quanto às suspensões, são macias e beneficiam bastante o conforto, nunca comprometendo a menos que se rode em mau piso ou de forma mais rápida com passageiro, podendo nesse caso esgotar o curso. A posição de condução é muito agradável, e é uma opção realmente divertida na cidade e arredores desde que o condutor não precise de um enorme espaço de carga (caso contrário existe sempre a hipótese do top-case).
Quanto à Honda, destacou-se acima de tudo pela posição de condução mais “trail” e pelas suspensões mais capazes, que são um pouco duras numa utilização quotidiana, mas que depois aguentam tudo quando se circula a dois ou em mau piso. Quanto ao motor, sendo bastante suave, parece mais lento que os das rivais, mas no fundo, somente a partir dos 120 km/h é ligeiramente menos rápido que as automáticas concorrentes.
CONCLUSÃO
Neste caso são várias. A primeira é que, uma scooter de média cilindrada faz uma viagem de 3 centenas de quilómetros de forma muito confortável e segura. Com velocidades de cruzeiro a rondar os 130 km/h, podemos sair das auto-estradas e poupar não só nas portagens como também nos consumos, que rondam, no máximo, os 4 litros e pouco por cada 100 quilómetros percorridos. O conforto é elevado, para condutor e passageiro, e sob o assento podemos guardar toda a “tralha” que numa moto só poderíamos levar se estivesse equipada com um conjunto de malas.
Quanto a estes três modelos, como já perceberam, destacam-se em vários aspetos. A Yamaha leva a melhor no espaço de carga, requinte e consumos; a BMW é a mais divertida mas também a mais cara, e a Honda privilegia o comportamento em estradas de mau piso, mesmo quando o passageiro está presente. Também gostámos bastante da proteção aerodinâmica da Honda, sendo a da BMW quase ausente, enquanto a da Yamaha protege mas gera alguma turbulência.
E se nos divertimos bastante na Serra de Monchique – mais até do que esperávamos – foi com a BMW que mais usufruímos, com a ADV a ser claramente mais eficaz nas secções de piso menos bom. Com a XMAX, desde que não andemos à procura dos limites, segue também de forma confortável e segura.
Três opções, cada uma ao seu estilo, capaz de oferecer muito por um PVP muito aceitável, num segmento repleto de propostas interessantes.
À “PENDURA” ATÉ AO ALGARVE
BOM CONFORTO GERAL
Nesta viagem de scooter até ao Algarve como passageiro houve três experiências completamente diferentes, no entanto, algumas expectativas foram superadas e outras confirmadas. A primeira parte foi feita na BMW C 400 X, uma scooter que consegue apresentar um bom desempenho com duas pessoas e mantém o conforto ideal para uma viagem longa. É importante referir que, como passageiro, a top case do modelo alemão e os suportes de mão ajudaram bastante na postura durante a viagem, assim como o assento espaçoso e macio fizeram a diferença para as outras duas concorrentes nesta experiência.
De seguida passei para a Honda ADV 350 que, como seria de esperar, dá para descrever numa só palavra, consistência. A imagem de marca da Honda para muitos é a consistência dos seus produtos, e neste caso foi exatamente o que senti. Tanto em estradas sinuosas ou abertas, o conjunto japonês não compromete no conforto, desempenho e principalmente na solidez. Das três scooters achei a mais “moto” com duas pessoas, com um assento confortável o suficiente para aguentar uma viagem longa e uma top case ideal para oferecer uma postura correta ao “pendura”. As suspensões desempenharam muito bem o seu papel e nunca comprometeram o conforto e a segurança durante a viagem, apesar de a BMW revelar um maior conforto de assento.
Por fim, mas não menos importante, a Yamaha XMAX, ficou um pouco abaixo das restantes no conforto. O seu assento é o mais pequeno das três e o mais rijo, pelo que o conforto aqui baixou ligeiramente, mas vale a pena acrescentar que foi a única scooter sem top case. As pegas laterais para as mãos são também demasiado largas para conseguir agarrar de forma tão segura, pelo que é uma scooter confortável mas um nível um pouco abaixo das rivais.
BMW C 400 X
MOTOR monocilíndrico, refrigeração líquida
CILINDRADA 350 cc
POTÊNCIA 25 kW @ 7.500 rpm
BINÁRIO 35 Nm @5.750 rpm
CAIXA automática
QUADRO tubular em aço
DEPÓSITO 12,8 litros
SUSPENSÃO DIANTEIRA forquilha telescópica de 35 mm, curso de 110 mm
SUSPENSÃO TRASEIRA duplo amortecedor, curso de 112 mm
TRAVÃO DIANTEIRO 2 discos de 265 mm
TRAVÃO TRASEIRO disco de 265 mm
PNEU DIANTEIRO 120/70 R15
PNEU TRASEIRO 150/70 R14
DISTÂNCIA ENTRE EIXOS 1.560 mm
ALTURA DO ASSENTO 775 mm
PESO 206 kg
P.V.P. (desde) 7.100 €
HONDA ADV 350
MOTOR monocilíndrico, refrigeração líquida
CILINDRADA 330 cc
POTÊNCIA 21,5 kW @ 7.500 rpm
BINÁRIO 31,5 Nm @5.250 rpm
CAIXA automática
QUADRO tubular em aço
DEPÓSITO 11,7 litros
SUSPENSÃO DIANTEIRA forquilha telescópica invertida
SUSPENSÃO TRASEIRA duplo amortecedor
TRAVÃO DIANTEIRO disco de 256 mm
TRAVÃO TRASEIRO disco de 246 mm
PNEU DIANTEIRO 120/70-15
PNEU TRASEIRO 140/70-14
DISTÂNCIA ENTRE EIXOS 1.520 mm
ALTURA DO ASSENTO 795 mm
PESO 186 kg
P.V.P. (desde) 6.580 €
YAMAHA XMAX 300
MOTOR monocilíndrico, refrigeração líquida
CILINDRADA 292 cc
POTÊNCIA 20,6 kW @ 7.250 rpm
BINÁRIO 29 Nm @5.750 rpm
CAIXA automática
QUADRO tubular em aço
DEPÓSITO 13 litros
SUSPENSÃO DIANTEIRA forquilha telescópica, curso de 110 mm
SUSPENSÃO TRASEIRA duplo amortecedor, curso de 79 mm
TRAVÃO DIANTEIRO disco de 267 mm
TRAVÃO TRASEIRO disco de 245 mm
PNEU DIANTEIRO 120/70-15
PNEU TRASEIRO 140/70-14
DISTÂNCIA ENTRE EIXOS 1.540 mm
ALTURA DO ASSENTO 795 mm
PESO 180 kg
P.V.P. (desde) 6.795 €