O Portugal de Lés-a-Lés celebrou as bodas de prata, com bênção da chuva e mais de 2.000 km ao longo de quatro dias. O nosso país esconde locais fantásticos que desconhecíamos, mas que fomos capazes de explorar pelo excelente trabalho da organização para nos proporcionar não só a visita a certas localidades, como toda a experiência e costumes das mesmas.
A jornada para nós começou no dia 7 de junho, bem cedo, com a saída de Lisboa rumo a Bragança. E para nos acompanhar nos 4 dias de viagem, tivemos connosco a Indian FTR 1200 Carbon R, equipada com uma mala lateral e um saco desportivo amarrado com aranhas e uma cinta, com um suporte (generosamente) equipado pela Indian. E depois de 5 horas de viagem e mais de 500 km, era tempo de recolher o nosso colete, roadbook e preparar o passeio de abertura que contava com 116 km. Acima de tudo, este passeio servia para todos os participantes ambientarem-se ao roadbook e perceber como navegar nos dias seguintes, que teriam muitos mais quilómetros. Nós temos de confessar, o percurso foi feito por GPS por não possuirmos leitor de roadbook – algo que percebemos que era uma desculpa fraca, por termos vistos bastantes participantes com caixas comuns de comida com elásticos e lápis para rodar o papel.
INDO EU ATÉ VISEU
A primeira etapa tinha partida marcada no palanque em Bragança – com o sol a fazer-se sentir de forma tímida e a chuva a ameaçar – com chegada prevista a Viseu 9h30 depois, com um total de 304 km. O primeiro ponto de paragem seria em Macedo de Cavaleiros, ao fim de sensivelmente 1h30 de caminho, mas no percurso até lá, passámos também por Podence, uma aldeia caracterizada pelas suas pinturas que são impossíveis de ignorar e não parar para umas belas fotos. À saída do nosso primeiro oásis (paragem em Macedo de Cavaleiros com direito a pastel de nata e café), seguimos por estradas de curvas e contracurvas, das que esperamos, sem dúvida, encontrar num passeio como o Lés-a-Lés, chegando a rolar lado a lado com o rio Azibo, havendo mesmo a possibilidade de atravessar pelo rio mais à frente, ou por uma pequena ponte – escolhemos a ponte. Por esta altura a chuva dava algumas tréguas e parecia mesmo que o dia ia ficar bem quente, como seria de esperar de um dia de junho. Mas o S. Pedro não tardou a mostrar que estávamos errados. Após uma estrada bem desenhada em direção a Alfândega da Fé, foi aí mesmo a nossa paragem para hidratar e comer umas cerejas oferecidas pela organização. E antes de conseguirmos pensar que poderia chover, o céu começou a cair sobre nós, criando uma necessidade de nos apressarmos a regressar à estrada.
A bússola apontava para a Barragem do Pocinho para comer uma bifana, e foi por pequenas aldeias e paisagens do Rio Sabor que seguimos viagem, passando pela Torre de Moncorvo num belíssimo largo em mais uma aldeia fantástica de Portugal. Com a barriga cheia e algum sol para nos ajudar na fotossíntese, deixámos a bela vista da barragem para retomar a viagem até Viseu onde a beleza do interior do nosso país continuou a surpreender. Mais que isso, a felicidade das pessoas com quem nos cruzámos em todos os locais foi algo de encher o coração e nos colocar um sorriso na cara. Um simples acenar ou o som de uma buzina, era suficiente para arrancar um sorriso de orelha a orelha aos que se colocam na rua para ver as motos passar. E antes da chegada a Viseu havia mais uma paragem. Celorico da Beira, mais concretamente no mercado onde no esperava muita animação e comida regional que nos fez duvidar se deveríamos continuar a nossa viagem ou ficar por ali a satisfazer as nossas papilas gustativas. Ainda assim, o dever chamava e a seguimos na Indian FTR até Viseu onde tivemos ainda a possibilidade de passar pela Sé de Viseu, chegando de seguida ao palanque debaixo de muita chuva.
ATÉ AO CENTRO DO PAÍS
A segunda etapa era um pouco mais contida, com 240 km de Viseu até Ourém. Partindo do mesmo palanque que nos recebeu na chegada a Viseu, aguardavam-nos muitas curvas com vistas fantásticas do nosso país (mais uma vez) e um dia com muita, muita chuva. Foi dia também de passar junto a muitos rios, entre eles o Dão, Mondego e o Cavalos, afluente do Mondego. Depois deste, chegaríamos à vila de Tábua, estacionando no jardim da capela do Sr. dos Milagres para a primeira “merenda” do dia. Curiosamente e depois de cerca de duas horas à chuva, o sol raiava na paragem no primeiro oásis. Continuando a nossa viagem, passámos por Lourosa antes de cruzar mais dois rios, o Aliva e o Ceira, que anunciava a nossa chegada a Góis, após estradas montanhosas absolutamente fantásticas com paisagens avassaladoras que foram algo mascaradas pelo imenso nevoeiro e chuva que se fez sentir. E o que dizer da chuva que se fez sentir no oásis de Góis… S. Pedro estava chateado connosco por algum motivo, e ordenou que o céu caísse de tal forma que não houve nada dentro do saco e mochila impermeável que se mantivesse seco. Mas o verdadeiro motociclista circula, faça chuva ou faça sol, e assim sendo, seguimos viagem. O rumo foi Castanheira de Pêra, sempre debaixo de muita chuva e com muito cuidado para manter a Indian FTR 1200 Carbon R com as duas rodas bem coladas ao asfalto. As curvas essas, continuavam a surgir e íamos fazendo a dança do sol para que parasse a chuva e a estrada secasse. Em Castanheira de Pêra parámos apenas para apreciar a Praia das Rocas, um projeto pensado para refrescar os visitantes desta vila. E não fosse a chuva e falta de fato de banho, poderíamos ter aproveitado para dar um mergulho. Não havendo mergulho, regressámos à estrada em direção a Ourém, com a chuva a abrandar ao longo do caminho, mas sempre presente. Daria ainda tempo de passar sobre mais dois rios, o Zêzere e o Nabão, com passagem por Fátima – local onde ficámos alojados juntamente com centenas de motociclistas. Chegados ao palanque de Ourém o sol brilhava como nunca e era necessário despir bastante equipamento para aguentar o calor que se fazia sentir.
MARATONA ATÉ SAGRES
A última etapa prometia ser cansativa, mas também com muito sol e boas surpresas. Mais uma vez o palanque de chegada do dia anterior deu o mote para a partida da etapa, onde teríamos de cumprir 425 km de Ourém até Sagres. A estimativa eram mais de dez horas em cima da moto e sabíamos que tínhamos de estar em sintonia com a nossa Indian para nos mantermos frescos até ao final do dia. A primeira paragem aconteceu rápido, passados poucos quilómetros, na Quinta da Cardiga, com um reforço do pequeno-almoço para aguentar toda a distância que ainda nos esperava. Seguimos pela Golegã, contornando a belíssima Igreja Matriz, que nos levaria mais à frente onde se localiza a fundação de José Saramago e uma estátua que foi alvo de muitas fotos. Continuámos em direção a Santarém, onde contornámos a cidade e fomos brindados com uma travessia do Rio Tejo na Ponte Rainha D. Amélia, uma belíssima ponte com “estrada” em grade que nos permitia ver a água diretamente debaixo de nós.
Daqui para a frente, as estradas quase infinitas do Alentejo começavam a ser mais comuns. Passámos por Coruche em direção a Montemor-o-Novo e Évora, com uma paragem em Valverde para um pão com chouriço e hidratação. Chegados a Viana do Alentejo encarámos um incrível castelo de D. Afonso Henriques que nos fez recuar largas centenas de anos e imaginar como seria tudo naquela época, seguido do Oásis Indian, onde a nossa FTR 1200 Carbon R se sentiu muito bem acolhida, e em casa. As longas retas continuavam e passávamos pela vila de Aljustrel, onde se seguiam umas fantásticas curvas a antecipar a serra de Monchique, com uma paragem na Barragem de Santa Clara antes do início da subida até ao topo da serra. A subida até à Fóia foi feita em ritmo acelerado e a Indian agradeceu as curvas trancadas e a estrada com bom piso, pois já nos tinha dito que era o que mais gostava. Neste ponto sabíamos que estávamos perto do fim desta enorme aventura e tentámos desfrutar de todas as restantes curvas e retas, até à entrada em Vila do Bispo e observar a Fortaleza de Sagres com o palanque final do Lés-a-Lés a poucos metros.
O PRIMEIRO EM 25
Esta foi a minha primeira aventura no Lés-a-Lés. E oportunidades como esta surgem pela beleza deste trabalho que proporciona oportunidades incríveis. A FMP e toda a restante organização estão de parabéns pelo fantástico evento, a todos os níveis. Desde o percurso, comida disponibilizada em pequenos momentos que pudemos experienciar graças à colaboração entre a federação e os moto clubes locais, tudo esteve extremamente bem oleado, mesmo com as duas primeiras etapas a contarem com muita chuva. São muitas motos, muitas pessoas, e recursos têm de ser geridos para que tudo corra dentro da normalidade e a 25ª edição do Lés-a-Lés cumpriu com o prometido. Que tenha sido a primeira de muitas, para mim e para tantos outros motociclistas que acabaram com enorme vontade de repetir esta aventura.
INDIAN – A NOSSA COMPANHEIRA
Como já perceberam pelo texto, a nossa companheira para a 25ª edição do Lés-a-Lés foi a Indian FTR 1200 Carbon R, uma naked com claro pendor desportivo e que poucos imaginavam fazer um passeio desta dimensão. Não fosse a chuva e as estradas de serra no norte do país tinham-nos oferecido o dobro do prazer, e à Indian também. Contudo, a moto foi uma excelente companhia durante toda a viagem, com o seu ponto fraco para este Lés-a-Lés a ser a posição um pouco agressiva que se fazia sentir quando não tínhamos curvas para nos movimentarmos em cima da moto. Em suma, pode não ser a primeira moto que pensam para fazer uma viagem destas, mas se é a que têm na garagem, não se acanhem, porque ela também não o vai fazer nem vos vai deixar ficar mal – apenas um pouco mais cansados.
Também estivemos de BMW – COM UMA R 1250 GS
Também fomos convidados pela BMW Motorrad para participar no Lés-a-Lés 2023 aos comandos de uma BMW R 1250 GS Adventure. O objetivo foi, não só desfrutar do passeio por todo o Portugal e da moto, como fazê-lo com um grupo de pessoas muito especiais, entre elas os atores Afonso Pimentel e Diogo Branco. Outro dos grandes objetivos foi criar conteúdo, nomeadamente imagens bonitas e inspiradoras para o nosso programa de televisão, o Motorcycle Sports, na SportTV+. Este ano fomos brindados com bastante chuva e calor ao mesmo tempo, mas nem isso nos impediu de aproveitar este evento que este ano celebrou a 25ª edição, tendo começado em Bragança e terminado em faro.