Italianas são sinónimo de elegância. E sim, falamos de motos. Desde sempre conhecidas pelo seu design requintado, as motos italianas têm vindo a evoluir bastante, por forma a deixarem de ser os “patinhos feios” no que diz respeito à parte mecânica. A Moto Morini é uma das marcas que pretende alterar esse preconceito.
A Moto Morini tem o seu lugar na história do motociclismo, sendo um dos fabricantes mais antigos de motos na Europa, com o seu percurso a iniciar-se em 1937 em Bolonha, Itália. Fundada por Alfonso Morini, a marca italiana tem um legado muito grande em todas as vertentes, com diversos modelos diferentes, incluindo motos de competição. Apesar disso o caminho foi atribulado, com passagem pelas mãos de diversos grupos, como a Cagiva e Ducati, até ter sido adquirida novamente pela família Morini, em 1954. Contudo, em 2018, foi o grupo chinês Zhongneng Vehicle a adquirir 100% da marca de Bolonha, salvando a mesma da falência e preservando uma parte da história do motociclismo.
TESTADO E COMPROVADO
Se é verdade que a Moto Morini tem muita história que inclui o fabrico de diversos componentes, na Seiemmezzo SCR encontramos diversas “peças do puzzle” já conhecidas de outras marcas. O motor é um bicilíndrico paralelo de 649 cc que debita 62 cv às 8.250 rpm, originalmente montado na Kawasaki ER-6N, o que faz deste bloco um coração já com muitos anos e experiência acumulada. E isso tem os seus pontos positivos e negativos. E enfrentando já o que menos gostámos neste motor, podemos dizer que as vibrações e a caixa áspera dão sinais claros da idade. Tendo em conta que a primeira ER-6N foi lançada em 2008, naturalmente este bloco sofreu diversas alterações e cumpre agora com as normas EURO5, mas a sua base mantém-se inalterada, o que faz com que apresente um comportamento mais “rudimentar” e típico dos motores de dois cilindros já com alguns anos, principalmente no que diz respeito às referidas vibrações e ao bater em baixa rotação.
O MELHOR CONFORTO; INSTRUMENTAÇÃO; TRAVAGEM
A MELHORAR VIBRAÇÕES; DUREZA DA CAIXA; RIGIDEZ DO QUADRO
Mas é possível obter um comportamento suave, onde a rotação sobe de forma muito natural, se soubermos trabalhar bem com a caixa de velocidades e manter a SCR nas rotações intermédias. Aí, até ao corte da rotação, este bloco é enérgico e parece mesmo ter potencial para mais. Aliado a isso, sentimos solidez neste bicilíndrico, que transmite confiança com a ausência de ruídos parasitas ou pequenas folgas – que nos poderiam fazem desconfiar da mecânica – mesmo quando o levamos ao limite. Neste departamento, seja por poupança nos custos de produção ou simples conservadorismo, a Moto Morini jogou de forma segura. E se gostávamos de um pouco mais? Sim, mas não ficamos mal.
OS MELHORES PARCEIROS
E se jogar pelo seguro foi o que aconteceu na motorização, no que diz respeito a travões e suspensões, a Moto Morini vem com componentes de fazer inveja a muitos. O sistema de travagem está a cargo da Brembo, com dois discos de 298 mm na dianteira e um único disco de 255 mm na traseira. Tanto atrás como à frente, as sensações transmitidas são boas, sendo necessária alguma força na manete do travão dianteira para que “morda” como queremos, mas quando atua, é bastante forte. Uma nota apenas para o ABS que parece ser acionado com alguma facilidade. E já que falamos de ABS, numa moto com algumas pretensões para circular fora de estrada (poucos, mas algumas) seria de esperar que fosse possível desligar esta ajuda eletrónica, pelo menos na roda traseira, algo que não é possível.
Contudo, a falta de controlo de tração até é benéfica para deixar a roda de trás deslizar fora de estrada, algo que nunca sentimos falta no alcatrão. As suspensões estão também elas a cargo de um nome bem conhecido, a Kayaba (KYB). Na dianteira contamos com uma forquilha invertida de 43 mm e 120 mm de curso, totalmente ajustável. E na traseira um monoamortecedor, também ele KYB e ajustável em pré-carga e extensão, com curso idêntico à dianteira. E é verdade que tanto na dianteira como na traseira sentimos bem a estrada e os impactos são absorvidos com eficácia – com ajuda da roda dianteira de 18” – até começarmos a extrair um pouco mais da Seiemmezzo. Aí, até houve tentativas de afinar a suspensão para um melhor compromisso, mas a verdade é que em ritmos mais elevados, e principalmente em pisos com mais irregularidades, a SCR mostrou-se muito irrequieta, transmitindo pouca confiança. Contudo, foi possível perceber que isso tinha mais a ver com o quadro e geometria, uma vez que ao nível das suspensões – passando a parte mais assustadora – conseguimos manter as sensações e perceber o limite do que podemos ou não fazer com esta Scrambler. E é importante dizer que apesar de um peso superior a 200 kg em ordem de marcha, a Seiemmezzo SCR é muito ágil.
CORPO ITALIANO
Apesar de ser uma moto Scrambler e estar um pouco disfarçada de moto do antigamente, a Seiemmezzo SCR vem equipada com iluminação Full LED e um desenho extremamente elegante, desde a integração da ótica traseira, aos piscas minimalistas, mas bem visíveis. Vários detalhes como o próprio assento, referências à Seiemezzo – ou seis e meio – e brasão Moto Morini na tampa do motor, dão um ar extremamente elegante a esta moto. O painel TFT de 5” também deixa cair a máscara de moto antiga. Com dois modos de apresentação diferente, este ecrã permite conectar o intercomunicador e o telemóvel via Bluethoth e tem uma excelente visibilidade. Curiosamente, o painel é idêntico ao que encontramos nas motos da Voge, como a 500 AC que testámos há algumas edições. A informação está bem distribuída, mas gostaríamos de ter algumas das informações que estão escondidas nos menus adicionais, neste ecrã principal. Esta SCR conta com poucos botões, mas a forma de circular entre informações é simples e rápida para quem se colocar aos comandos desta moto pela primeira vez. Apesar de não estar munida de tecnologia e excentricidades, a Seiemmezzo SCR vem equipada com aquilo que são os mínimos esperados de tecnologia numa moto nova. O mais importante é que tudo funciona, e bem.
APENAS O PRINCÍPIO?
A Moto Morini Seiemmezzo é inconfundivelmente uma moto italiana, pelo seu desenho e estilo diferenciado. Apesar da aquisição por parte de um enorme grupo chinês, a marca tenta manter-se fiel às suas origens e entregar aquilo que se espera de um histórico do motociclismo. Com dois modelos na sua gama, a Seiemmezzo e a X-Cape (já testada por nós) a marca italiana pretende reacender a chama dos seus tempos áureos.
E se há melhorias a realizar nas próximas versões da Seiemmezzo SCR, a verdade é que a base desta moto é já bastante boa e faz antever evoluções muito interessantes. Um motor com potencial, componentes de topo e um desenho que a distinge, fazem desta Moto Morini uma moto agradável à vista e à condução. Com um preço desde os 7.490€ a Seiemmezo pode ser uma escolha interessante para quem procura uma scrambler a um preço mais acessível do que a maioria. Caso prefiram uma naked com um estilo mais neo-retro há também a versão STR, que esperamos ter aqui para vocês em breve.