Desconhecida para muitos, famosa para outros, é assim que a Energica entra no nosso mercado. Os amantes do desporto motorizado, nomeadamente os que acompanham o campeonato do mundo de MotoGP sabem que a Energica foi a marca que iniciou o campeonato de MotoE, estando como único fabricante no mesmo até à época transata. Há alguns meses estivemos na apresentação da marca ao nosso mercado pelas mãos da Moteo Portugal, e este mês conseguimos, finalmente, testar um dos modelos da marca italiana.
Com as motos elétricas a assumirem um papel cada vez mais importante no mercado das duas rodas, deixámos de ter apenas motos movidas a bateria a servir o propósito de motos utilitárias. Exemplo disso é a Energica EsseEsse 9, que pode ser o modelo mais “básico” da marca italiana, mas nem por isso deixa de impressionar pela performance que oferece e toda a tecnologia que a equipa.
CUIDADO QUE MORDE
Motos elétricas são sinónimo de potência disponibilizada de imediato, e quando falamos de uma marca que fornecia motos para o campeonato do mundo, não esperamos nada menos do que uma moto bem capaz no que diz respeito à motorização. E é mesmo isso que encontramos nesta moto. A versão base consegue alcançar, segundo a marca, um tempo de 3 segundos dos 0 aos 100 km/h; já a versão que testámos, a EsseEsse9 + RS consegue fazer o mesmo em 2,8 segundos. Um ganho quase marginal, mas que para os mais vaidosos pode ser importante. Ainda assim, o que podemos reter disto é que a moto é efetivamente muito rápida a acelerar, apesar dos seus 260 kg. É também muito veloz a atingir a velocidade máxima, limitada a 200 km/h, que se traduziram em 207 km/h no painel, o que revela bem os 80 kWh que a Energica anuncia, bem como os 207 Nm de binário. Juntando a tudo isto quatro modos de condução bem diferentes (Eco, Standard, Wet e Sport), conseguimos extrair todo o potencial do motor desta moto nas mais diversas situações. O Eco e o Wet são efetivamente para uma condução mais relaxada com o acelerador a ficar mais brando e menos responsivo, contrariamente ao modo Standard e Sport, sendo que neste último a EsseEsse9+ RS faz justificar todas as ajudas eletrónicas que possui. E nestas ajudas temos quatro modos de regeneração diferentes (Low, Medium, High e Off), que nos vão ser úteis também em diversas situações, sendo que podemos mesmo aproveitar esta regeneração para nos ajudar a utilizar menos os travões, mesmo numa condução mais aplicada, uma vez que no modo Medium e High o travão de motor é bastante forte.
PESO QUE SE NOTA
Como devem ter percebido por tudo o que foi escrito anteriormente, esta Energica tem motor para dar e vender, como se costuma dizer na gíria. É por isso importante que tenha uma ciclística ao mesmo nível do motor, para que possamos explorar o mesmo em todo o seu potencial. Olhando para a ficha técnica encontramos logo à priori um pequeno problema, que é o peso. E por muito que seja disfarçado pelo centro de gravidade baixo e boa distribuição do mesmo, vamos sempre notar nas transições de massas que estamos perante mais de 250 kg. Ainda assim, a EsseEsse9+ RS mostrou-se bem recetiva a estradas encadeadas, com boas sensações na dianteira da moto, bem como na traseira, tudo isto em bom piso. Quando começamos a apanhar um pouco de ressaltos ou estradas em piores condições, começam a entrar também algumas limitações do monoamortecedor Bitubo. Acima de tudo sentimos que se trata de uma questão de massa, ou seja, o amortecedor não consegue lidar bem com uma massa tão grande a oscilar, o que torna a moto algo instável e nos faz perder um pouco as boas sensações. Já a dianteira mostrou um bom comportamento, mesmo em situações limite e de mau piso, estando esta a cargo da Marzocchi, que equipou esta moto com uma suspensão totalmente ajustável de 43 mm. Onde o conjunto de suspensões se destaca realmente é em ritmo de passeio, absorvendo muito bem as irregularidades do piso, juntamente com um assento muito confortável, tornando as voltas de fim de semana bastante prazerosas. No capítulo da travagem, pouco ou nada a apontar, uma vez que a moto vem equipada com duplo disco flutuante de 330 mm da Brembo e um único disco de 240 mm, também ele Brembo, na traseira. Tudo isto com a ajuda de um bom travão de motor, param a EsseEsse9+ RS em segurança, em qualquer situação.
TECNOLOGIAS NECESSÁRIAS
Depois do motor e ciclística, temos de falar da inevitável eletrónica que torna possível a harmonia de todos os componentes. Mais do que numa moto a combustão com esta potência, a Energica disponibiliza toda a sua energia de forma imediata, pelo que é fundamental que as ajudas funcionem corretamente e sejam efetivamente uma ajuda real à pilotagem desta moto. E é isso que acontece. Já aqui falámos dos modos de condução e de regeneração, mas há mais. O painel TFT de 4,3” incorpora – para além do que já foi referido – 6 modos de controlo de tração, que talvez mais do que em qualquer outra moto, sejam aqui fundamentais. É verdade que arriscámos desligar esta ajuda, mas a roda dianteira pedia sempre para descolar do alcatrão e a traseira protestava sempre um pouco, sendo que encontrámos o melhor equilíbrio no modo 2 e 3, uma vez que conseguimos perceber que estão a ajudar a nossa pilotagem, sem serem demasiado limitativos.
A verdade é que até baixarmos do nível 4, parecia que o sistema nem estava a entrar em ação, mas quanto mais íamos anulando esta ajuda, percebíamos que conseguíamos sair mais depressa das curvas e manipular um pouco melhor a condução ao nosso gosto, isto claro se o punho direito já tiver alguma experiência. Se não for o caso, recomendaríamos circular sempre com o controlo de tração no nível 4 ou superior, de forma a não haver nenhuma surpresa desagradável. No capítulo do necessário entra ainda a marcha-atrás, que se revelou bastante útil tendo em conta o peso da moto e a baixa brecagem da direção. Este modo é acompanhado de um modo “Slow Speed” para a frente, o que a Energica denomina de “Park Assist”. Para terminar o lado mais tech desta moto, dizer que a mesma já suporta carregamento rápido, o que se traduz, segundo a marca, na reposição de 6,69 km de autonomia a cada minuto, sendo assim possível atingir mais de 100 km de autonomia em menos de 20 minutos.
O MELHOR Motor, travões, eletrónica, conforto A MELHORAR Peso, amortecedor traseiro, TFT
MUDANÇA DE MENTALIDADE
Esta Energica EsseEsse9+ RS é efetivamente uma boa moto. Tem as suas limitações, sim, nomeadamente o peso, que depois tem consequências na sua pilotagem e na capacidade de alguns componentes lidarem com isso, mas tudo isso é algo que pode ser melhorado com relativa facilidade. Falamos de uma moto que cumpre com facilidade – e sim, mesmo com muita facilidade – mais de 200 km sem termos de nos preocupar com autonomia, caso não tenhamos um punho direito que nos faça andar sempre em regimes fora dos limites legais. Também não podemos querer ser os reis dos semáforos, pois aí nem 100 km de autonomia vamos conseguir, muito provavelmente. Contudo, é preciso ter em conta que estamos a falar de uma moto de 29 mil euros, o que para muitos vai ser certamente um fator limitativo. É um “brinquedo” caro e que quem pondera comprar, tem já uma mentalidade mudada quanto à forma de utilizar uma moto destas.
ENERGICA EsseEsse 9+ RS
MOTOR HSM, arrefecido a líquido, 300V
POTÊNCIA 80 kW (109 cv)
BINÁRIO 207 Nm
CAIXA n.d
QUADRO treliça tubular em aço
AUTONOMIA 256 km (combinada)
SUSPENSÃO DIANTEIRA forquilha telescópica invertida Marzocchi 43 mm totalmente ajustável, curso 110 mm
SUSPENSÃO TRASEIRA monoamortecedor Bitubo, ajustável em extensão, 165 mm
TRAVÃO DIANTEIRO duplo disco 330 mm, pinças Brembo de 4 êmbolos
TRAVÃO TRASEIRO disco de 240 mm, pinça Brembo de 2 êmbolos
PNEU DIANTEIRO 120/70 ZR17
PNEU TRASEIRO 180/55 ZR17
DISTÂNCIA ENTRE EIXOS 1.465 mm
ALTURA DO ASSENTO 790 mm
PESO 260 kg
P.V.P. (desde) 29.076 €