Após alguns anos de maior marasmo, a Suzuki parece estar novamente a renascer, e prova disso é a nova GSX-S 1000 GX. Por isso quisemos falar com o Responsável de Vendas e Marketing da Moteo Portugal S.A., João Nuno Cruz, sobre este e outros temas relacionados com a empresa de Aveiro que possui várias marcas no nosso país.
Natural de Angola e com 51 anos de idade, João Nuno Cruz (ou apenas Nuno Cruz como o próprio prefere) é um dos homens fortes da Moteo desde 2019. Desde aí a empresa tem mostrado bastante solidez, não só com a Suzuki – que será sempre a marca de renome da empresa aveirense – mas também com as restantes marcas que comercializa no nosso país, o que nos levou a esta pequena entrevista realizada durante a apresentação nacional da nova Suzuki GSX-S 1000GX.
Motociclismo – Nuno, quando a marca Suzuki mostrou intenções globais de abandonar as competições desportivas, com o MotoGP desde logo a cabeça, isso foi algo que vos deixou – e que te deixou a ti pessoalmente – preocupado com o futuro da marca?
Nuno Cruz – Honestamente preocupado não, esperançoso sim. Esta resposta tem um enquadramento que é o facto de que a Suzuki já tinha de alguma forma manifestado internamente a necessidade de reinvestir no desenvolvimento da sua gama comercial e isso iria implicar fazer algumas concessões em termos de organização de empresa e de alocação de recursos. Recursos financeiros, materiais humanos também. Portanto preocupados não, ficámos naturalmente com o DNA da marca que está muito ligado à competição e ao desporto, e ficámos algo consternados, mas foi uma decisão que para nós nos trouxe a esperança de uma renovação da marca que estamos a ver, portanto claramente a resposta é de que não ficámos preocupados. Eu pessoalmente também não, mas sim esperançado.
Motociclismo – No seguimento desta primeira pergunta, aquela questão que também muitos fãs da marca gostariam de fazer. Como é que está neste momento a marca Suzuki, de duas rodas a nível mundial?
Nuno Cruz – A operação da Suzuki em termos mundiais tem facetas muito distintas. Quando falamos do mercado europeu e das restrições que existem hoje no normativos comunitários, isso faz com que a gama da Suzuki seja curta e aí o enquadramento é um. Quando olhamos em termos mundiais o enquadramento é completamente diferente, e penso que não é só para a Suzuki, é algo que todas as marcas sofrem hoje com estas restrições da União Europeia, e estão a começar a apostar em mercados que são, enfim mais livres e que não são tão restritivos do ponto de vista do desenvolvimento. Portanto globalmente a Suzuki vive um momento positivo, muito positivo, depois de ter passado anos complexos. E falamos do mercado asiático, mercado indiano e mercado norte-americano, e que fazem com que no seu todo os números da Suzuki sejam globalmente interessantes.
Motociclismo – Muitos motociclistas em Portugal, especialmente aqueles já com mais anos no ativo, recordam ainda a Veículos Casal como a empresa que trabalhava a Suzuki. Como é que a Moteo está implantada em comparação com essa antiga empresa?
Nuno Cruz – No fundo a Moteo é a Veículos Casal, houve apenas uma alteração de nome. O número de contribuinte é o mesmo, e quando o capital social da Veículos Casal foi comprado pela Moteo Two Wheels, o grupo belga a quem nós pertencemos, obteve essa transformação do nome. Naturalmente que hoje a atividade da Moteo é muito mais abrangente do que era a Veículos Casal, que nasceu para comercializar a Casal, depois mais tarde para importar a Suzuki. Nasceram outras empresas à volta, umas para importar a SYM, outras para importar na altura a Ducati e a Peugeot, e depois com esta aquisição pelo Moteo fundiram-se todas outras vez, uma grande amálgama. Assim hoje a Moteo tem uma atividade muito mais abrangente no território continental em termos de concessionários do que tinha quando era a Veículos Casal com a Suzuki.
Motociclismo – E mantiveram-se sempre sob a alçada do grupo belga até hoje.
Nuno Cruz – Exatamente, e estamos com projetos de expansão para Espanha e para a Alemanha, portanto o grupo Moteo está a crescer para outros mercados. São 8 mercados, e inclusivamente a operação espanhola vai estar assente na equipa portuguesa.
Motociclismo – Em relação à gama atual de motos Suzuki, é uma gama que tem vindo a atualizar-se bastante, mas ainda assim apresenta algumas lacunas. Que tipo de modelos farão mais falta neste momento?
Nuno Cruz – Bom, nesse aspeto temos de falar do que o mercado procura. É claro que a nossa gama já está um pouco mais enriquecida. Temos lançado alguns modelos interessantes e este ritmo irá manter-se nos próximos anos e vai acelerar, não posso dizer muito mais. Agora, naturalmente que nos falta algo de média cilindrada, pois a gama Suzuki passa logo de uma 125 cc para uma 650 cc. E aqui no meio pensamos que existe espaço para algo e em vários segmentos, estrada, trail, etc. Falta-nos uma custom na nossa linha, e a Suzuki sendo uma marca eminentemente desportiva não tem uma verdadeira desportiva neste momento, já que a Hayabusa é o que é, não é uma desportiva e a GSX-8R também não vem ocupar o lugar de uma desportiva pura. Portanto temos aqui alguns “gaps”, quer em termos de cilindrada quer em tipologia de produto.
Motociclismo – A Moteo contudo não é só Suzuki. Como é que estão as outras marcas do grupo, nomeadamente a recém chegada F.B Mondial?
Nuno Cruz – Efetivamente temos um portfólio de marcas grande, nem sempre aquilo que é o ideal, pois ter mais marcas não é só juntar produto, tem toda uma logística por trás bastante complexa e a equipa é a mesma, digamos assim. Mas temos comportamentos mistos. A SYM é também uma marca histórica no grupo Moteo, é aliás a marca que o grupo tem em todos os países onde opera neste momento. É o maior importador privado a nível mundial da SYM, e temos uma relação muito boa com eles e temos inclusivamente uma base logística com eles, na Bélgica, que serve as filiais da SYM na Europa. A marca está com muita vitalidade, mostrou boas novidades na EICMA e a marca vai continuar a evoluir. Das marcas mais históricas, a Peugeot atravessa um momento algo conturbado na sua história, mais um de muitos que teve ao longo da sua vida. Neste momento apresenta alguma estagnação em termos de gama e desenvolvimento e nós mantemos o espírito algo expectante em relação ao que irá ser o futuro. Nas outras marcas, a eletrificação é um ponto assente, e a Moteo foi dos primeiros importadores privados com alguma dimensão a apostar na eletrificação. O mercado europeu no ano passado teve um pico de crescimento fantástico, mas este ano está em quebra nas motos como está nos automóveis.
É um mercado que para mim ainda está muito verde, e ainda tenho as minhas dúvidas. Acho que na parte da mobilidade faz todo o sentido, e aí estou a falar naturalmente da Super Soco, pois é um produto que faz sentido e o mercado vai ter que se ajustar, pois há dezenas de marcas a surgirem diariamente e não existe dimensão para absorver todos os “players” que estão a aparecer. Quanto à Energica, é um produto de nicho dentro de um nicho, com motos de grandes performances. Para nós sempre foi uma questão de prestígio e é isso que queremos ter, com uma marca que é uma referência e vamos continuar a apostar nesse sentido. Quanto às novas adições, a F.B Mondial é a mais recente e surge no âmbito que disse há pouco da expensão da Moteo, sobre ir para outros mercados como Espanha ou Alemanha, com marcas para trabalhar. Nesta busca de parcerias surgiu a possibilidade da F.B Mondial para ser negociada no âmbito global de todos os países. Nesta política de grupo onde estamos inseridos temos de trabalhar aquilo que aparece, e neste caso falamos de outra marca história, que passou também por vários momentos complicados como muitas marcas italianas. Neste momento a marca está inserida no grupo Pelpi, nas mãos de alguém que tem muitos anos de indústria de duas rodas e sempre ligado à industrialização das duas rodas. Uma pessoa, e falo do Cesare Galli, que tem uma visão para a marca muito interessante. Estamos com expetativas, deves ter visto que em Milão a marca apresentou uma Piega 452 que é uma moto “fora da caixa” e acho que vamos continuar a trabalhar um pouco por aí, com esperança embora não seja um caminho fácil.
Motociclismo – E expectativas em relação a esta nova GSX-S 1000GX?
Nuno Cruz – As expetativas são interessantes. O mercado onde a GX se irá integrar não é um mercado muito grande, é um conceito de produto onde não há muitos concorrentes. A própria Suzuki identificou dois concorrentes, a Kawasaki Versys 1000 e a BMW S1000XR, e foi um pouco com isto que as coisas nasceram. Curiosamente, pelo menos até agora a moto está a ter muito mais recetividade do que eu esperava, do público em geral, da própria rede comercial, pois não sendo um produto para massas está a criar apetite nos concessionários, e isso é interessante. Se me perguntas se iremos fazer um volume fantástico com esta GX, nem é esse o objetivo. Mas vai certamente superar as vendas da GT, isso claramente.