Vivemos na era das motos trail, que se estão a apoderar do mercado de forma avassaladora e com algumas razões para tal. Mas será que uma Sport Touring ainda consegue o seu espaço e faz sentido nos dias que correm? A Kawasaki responde.
Esta Ninja 1000SX é uma moto bem diferente da que foi lançada originalmente em 2011, onde basicamente a Kawasaki decidiu “vestir” uma Z1000. Hoje, a sigla Z desapareceu do nome desta moto e o seu propósito foi alterado e aprimorado, estando hoje posicionada num patamar de prestígio na marca japonesa, se assim o podemos dizer.
SUAVIDADE E REQUINTE
Quatro cilindros em linha é sinónimo de suavidade, e o estranho é pegar numa moto com um motor tetracilíndrico em linha e sentir que a moto vibra ou tem um comportamento mais áspero. Ainda assim, há quatro em linha mais suaves que outros, sendo este motor de 1.043 cc um dos mais suaves e requintados blocos que já tive oportunidade de testar. São 142 cv às 10.000 rpm e 111 Nm de binário máximo às 8.000 rpm, o que já impõe algum respeito e acima de tudo revela, na teoria, as capacidades desta moto no que diz respeito à entrega de potência. Mas o mais impressionante é a forma como a Kawasaki gere os números e consegue, de forma requintada, oferecer uma linearidade impressionante desde os baixos regimes até às 11.000 rpm, onde se situa o corte de motor.
Tal como a maioria dos motores 4 cilindros em linha, a alma deste bloco aparece na sua totalidade a partir de regimes médios/altos, não deixando por isso nada a desejar em baixa rotação. Acima de tudo, esta Ninja 1000SX oferece uma certa sensação de segurança, por aparentar estar sempre confortável, seja em que regime for. Mas se quiserem puxar pelo lado sport desta moto, não tenham problemas em levar o conta rotações ao limite, porque a 1000SX não terá problemas em entregar todos os cavalos disponíveis e deixar um sorriso bem rasgado na cara de quem a conduz. Porém, a suavidade tem um ponto menos positivo, que é mascarar um pouco a energia do motor, que é entregue de forma tão progressiva que despe um pouco a Ninja de uma personalidade mais vincada.
VIAJAR DEPRESSA
Abordado o tópico “motor”, é importante dizer que a Kawasaki parece ter tido um foco grande na suavidade e requinte, não só no bloco tetracilíndrico, como em todos os restantes componentes. Em particular as suspensões desta 1000SX têm um comportamento semelhante ao do motor, no sentido de oferecerem homogeneidade em toda a sua faixa de utilização. Sentimos que num curso inicial, em pequenos ressaltos da estrada vamos sofrer um pouco, mas rapidamente temos essa sensação desmistificada pelo excelente comportamento da forquilha dianteira e amortecedor traseiro, que oferecem um conforto exemplar a esta Kawasaki. Mas isto faz surgir uma outra questão… Será então que o comportamento desta moto nos vai desiludir a velocidades mais elevadas? A resposta é não. Conforto e desportividade podem estar muitas vezes dissociados, mas a Kawasaki encontrou uma forma de juntar estes dois conceitos na Ninja 1000SX sem penalizar muito nenhum deles.
O MELHOR Suavidade do motor, suspensões, ergonomia e conforto A MELHORAR Carácter do motor, navegação nos menus
A suspensão dianteira é totalmente ajustável e o monoamortecedor traseiro conta com ajuste de pré-carga e extensão, oferecendo assim a possibilidade de encontrar a melhor afinação para todos os tipos de condução. Contudo, mesmo com os ajustes de fábrica, sentimos que a Ninja 1000SX é uma moto extremamente equilibrada. Como referimos, absorve bastante bem as irregularidades do asfalto e numa condução mais desportiva consegue cumprir com distinção o seu propósito de Sport Touring, para nos levar a qualquer local de forma rápida e confortável. Puxando por todos os 142 cv, esta moto nunca se retrai e parece fazer acontecer tudo de forma muito suave e mais lenta do que realmente se passa. Mas é um engano, pela sua suavidade, como também já falámos. Para combater essa falsa sensação e sabermos que podemos parar a tempo, a Kawasaki equipou a 1000SX com dois discos semiflutuantes de 300 mm e um único disco de 250 mm na traseira, que em conjunto oferecem excelente potência de travagem, com um tato tão sensível que pode mesmo necessitar de alguma habituação extra para não travarmos em demasia e de forma brusca. Como conjunto, esta Kawasaki está bem balanceada entre o que pode entregar para os que pretendem viajar a velocidades reduzidas sem estarem preocupados com a fadiga, e os “pilotos” que já descartam uma R, mas não querem deixar de parte o seu lado mais desportivo.
AJUDAS PARA TODOS OS GOSTOS
A Kawasaki equipou esta Ninja 1000SX com um arsenal tecnológico grande, a pensar em oferecer conforto em qualquer situação de condução. O painel TFT de 4,3” oferece uma excelente visibilidade e permite ligação ao telemóvel via Bluethooth, onde podemos ver através da aplicação várias informações extra, para além das que são disponibilizadas no painel – que já são muitas. Mas no TFT temos a possibilidade também de circular entre três modos de condução predefinidos (Road, Rain e Sport) e mais um personalizável. Como seria de esperar o modo sport é aquele que dá mais pimenta a esta moto, e foi aí que circulámos na maioria do nosso teste. A tudo isto podemos somar o controlo de tração da Kawasaki (KTRC) que foi acendendo algumas luzes ao longo dos dias, mas sempre sem se fazer sentir, e o super suave quickshifter (de série) nos dois sentidos. Se não quisermos usar este sistema, podemos sempre contar com uma embraiagem deslizante muito leve e que funciona de forma sublime. Mais, para longas viagens e se não quisermos de todo tocar na caixa de velocidades esta Ninja 1000SX vem equipada com cruise control de série. Se juntarmos a tudo isto um assento confortável e uma ecrã ajustável em quatro posições que oferece uma boa proteção aerodinâmica, temos mais um equilíbrio quase perfeito entre conforto e desportividade.
DEPRESSA OU DEVAGAR… É SÓ ESCOLHER
As “verdadeiras” Sport Touring no sentido mais natural da palavra estão a desaparecer aos poucos. Ainda assim a Kawasaki quer mostrar que não faz sentido que isso aconteça, revelando que é possível, e faz sentido, ter uma moto destas na garagem. A Ninja 1000SX não se acanha a cumprir absolutamente nada a que se propõe, oferecendo a emoção de uma moto desportiva, num conjunto confortável e capaz de nos levar a realizar muitos quilómetros sem pensarmos em desistir. O segmento desta moto pode ser mal-amado nos dias de hoje, mas a Kawasaki Ninja 1000SX merece uma oportunidade de todos os que procuram uma boa companheira de viagens e sabem que nunca vão colocar uma roda fora de estrada.
KAWASAKI NINJA 1000SX
MOTOR 4 cilindros em linha, refrigeração líquida
CILINDRADA 1.043 cc
POTÊNCIA 104,6 kW (142 cv) @ 10.000 rpm
BINÁRIO 111 Nm @8.000 rpm
CAIXA 6 velocidades
QUADRO dupla trave em alumínio
DEPÓSITO 19 litros
SUSPENSÃO DIANTEIRA suspensão invertida de 41mm, totalmente ajustável
SUSPENSÃO TRASEIRA monoamortecedor a gás, Back-Link,com ajuste de pré-carga e extensão
TRAVÃO DIANTEIRO dois discos de 300 mm semi-flutuantes, pinças radiais de 4 êmbolos
TRAVÃO TRASEIRO disco de 250 mm, pinça de 1 êmbolo
PNEU DIANTEIRO 120/70 ZR17
PNEU TRASEIRO 190/50ZR17
DISTÂNCIA ENTRE EIXOS 1.440 mm
ALTURA DO ASSENTO 835 mm
PESO 235 kg
P.V.P. (desde) 15.990€