O nome do trabalho é extenso mas o âmbito do mesmo foi simples. A Honda colocou ao dispor dos jornalistas ibéricos diversas Africa Twin Adventure Sports e propôs-nos a realizar quatro dias de viagem por Marrocos, começando em Marraquexe e terminando em Erfoud. Parece-vos bem? Pois também a mim, este é mesmo um daqueles convites que não se podem recusar!
Na verdade, fui o único jornalista português convidado, portanto, uma oportunidade de luxo para treinar o meu castelhano com os meus colegas do país vizinho e tentar até arranhar algum catalão, o que desde logo desisti. Quanto às motos, não sendo esta uma apresentação convencional, pouco se falou das especificações técnicas, até porque muito já se disse da Africa Twin desde que esta regressou ao mercado com bastante sucesso.
Mas só para que fique registado, utilizei uma Adventure Sports com DCT – por acaso já com bastantes quilómetros – e equipada com malas laterais e top-case, portanto uma versão pronta para fazer muito mais do que aquilo que iríamos realizar, cerca de 1000 km no total e praticamente todos eles em asfalto. Uma moto com uma autonomia enorme, elevada capacidade de carga, punhos aquecidos (itens super importantes nesta viagem), muita proteção aerodinâmica e conforto. E se já tinha estado por duas ocasiões em Marrocos, ainda não tinha andado de moto neste país. Aqui estava a oportunidade certa!
EM MARROCOS
Viajar para Marrocos não exige grandes complicações, mas também não é como passar a fronteira até Espanha. Acima de tudo é necessário ter o passaporte em dia, trocar dinheiro e perceber que tipo de viagem e estadia iremos ter, até por causa dos dados móveis, que nos habituámos a ter ligados nos nossos dispositivos em qualquer país da Europa. Em Marrocos isso será proibitivo, mas se é verdade que a rede de Wi-Fi está muito bem implementada, funcionando muito nos hotéis e até nos restaurantes, o indicado será mesmo comprar um cartão do país para o nosso telemóvel (o que é bastante acessível) e assim ficarmos muito mais descansados. Ah, e já agora, se vocês forem jornalistas, fotógrafos, etc, não se inibam a imaginar uma qualquer outra profissão na passagem pela zona dos passaportes no aeroporto ou fronteira. Poderá poupar-vos uns largos minutos de interrogatório…
Em Marraquexe aproveitámos desde logo para apreciar os contrastes enormes que existem neste país. E por isso também andámos de táxi, fomos às compras nas ruelas labirínticas em redor da praça Djemaa el Fna – a mais conhecida da cidade – e regateámos tudo e mais alguma coisa que comprámos. Isto é algo que pode não agradar a todos, já que não é um hábito europeu, mas é mesmo assim que funciona neste país do norte de África se não queremos esvaziar os bolsos rapidamente! E depois de uma violenta queda de granizo, que nos colocou de sobreaviso sobre o que poderíamos vir a apanhar em termos climatéricos no resto da viagem, fomos descansar pois havia que atravessar o Atlas no dia seguinte.
MARRAQUEXE – OUARZAZATE
Saindo de Marraquexe bem cedo em direção ao Atlas, com cerca de 3 graus de temperatura, ligámos os punhos aquecidos no máximo e seguimos viagem. O ritmo foi tranquilo perante a confusão nas estradas para sair desta cidade com mais de 1 milhão de habitantes, pelo que nada melhor do que seguir com muita atenção, até porque durante largas dezenas de quilómetros levámos o sol de frente nos olhos. E é claro, o piso nem sempre foi o melhor, embora nesse campo a Africa Twin estivesse como peixe na água. Passámos pelo Atlas, uma cordilheira que se estende por 2.500 quilómetros por Marrocos, Argélia e Tunísia, e alcançámos o ponto mais alto por estrada, aos 2.260 metros de altitude, onde ninguém quis tirar o capacete por cauda do frio!
Com tudo branco à nossa volta fizemos fotos e vídeos, brincámos na neve e atravessámos belos vales em direção a Ouarzazate, famosa cidade que ainda estava longe. Almoçámos em Telouet, uma antiga povoação bem típica e visitámos o solar dos Glaoui, construído no século XVIII e ampliado no século XIX, e que servia para abrigar a família mais poderosa da região. Ainda hoje em dia conseguimos ver belos detalhes de luxo nesta construção que se encontra algo abandonada. E foi também em Telouet que assistimos à segunda “exibição” gratuita do Kirian Mirabet, um jovem espanhol que nos acompanhou nesta viagem, ex-piloto do campeonato do mundo de enduro, e que é agora um género de “embaixador” da Honda Africa Twin. Sigam-no no Instagram e vejam tudo aquilo que ele é capaz de realizar com uma moto de 250 kg. Acreditem que ao vivo é ainda mais incrível!
MUDA A PAISAGEM
Um dia em que deu logo para perceber como a paisagem pode mudar tão depressa neste país. Como se atravessássemos vários continentes em apenas um dia. Apesar das muitas horas em cima da moto, este não foi um dia muito longo em termos de quilómetros, com apenas 213 cumpridos (com uma média de 5,5 l/100 km), mas foi muito rico em termos culturais e paisagísticos, e por isso ainda visitámos Ait Ben Haddou, o ksar mais famoso de Marrocos e declarado Património da Humanidade da Unesco em 1987.
Entrámos pelo forte e bebemos um chá neste local que já recebeu filmagens de películas como o Gladiador, Guerra dos Tronos, Lawrence da Arábia, entre outros. Daí a criação de um polo cinematográfico a apenas 20 km de Ouarzazate, onde passámos a noite.
Quanto à moto, a Africa Twin voltou a revelar desde o início desta viagem que é uma das maxi-trail mais versáteis e confortáveis do mercado, mas sobre a moto e restante viagem voltaremos a falar na próxima edição. Ainda há muito para contar!