A Energica Motor Company, outrora símbolo de inovação no setor das motos elétricas, enfrenta agora o seu momento mais crítico. A empresa italiana, que foi fornecedora exclusiva do campeonato MotoE entre 2019 e 2022, encontra-se em liquidação judicial e será leiloada publicamente no próximo dia 20 de março pelo Tribunal de Modena. O valor estimado do pacote de ativos é de 5,7 milhões de euros.
Fundada em 2009 como parte do Grupo CRP e consolidada em 2014, a Energica destacou-se no desenvolvimento de motos elétricas de alta performance, sendo pioneira na mobilidade sustentável sobre duas rodas. O seu ponto alto ocorreu quando foi escolhida como a primeira fornecedora oficial do campeonato MotoE, cargo que manteve até 2022, antes de ser substituída pela Ducati em 2023.
Contudo, apesar da sua visão futurista, a empresa nunca conseguiu atingir a rentabilidade desejada. Em outubro de 2024, após anos de dificuldades financeiras, foi declarada em liquidação judicial.
A subasta inclui praticamente todos os ativos produtivos da Energica. O lote está avaliado em 5,7 milhões de euros, mas o tribunal admite propostas até 25% inferiores, o que significa que o valor final poderá começar nos 4,27 milhões de euros.
Entre os ativos estão dezenas de motociclos – alguns completos, outros em diversas fases de montagem -, bem como um stock de peças de substituição avaliado em 154 mil euros. O inventário também inclui baterias e componentes, estimados em 3,4 milhões de euros, com especial destaque para células de lítio avaliadas em 726 mil euros.
Para além disto, serão leiloados equipamentos industriais, mobiliário e ferramentas utilizadas na produção, assim como a propriedade intelectual da empresa, englobando marcas, patentes, software e segredos industriais ligados à produção de motos elétricas. No entanto, os edifícios da Energica na rua Scarlatti não farão parte do leilão, uma vez que eram arrendados.
De acordo com o relatório pericial do Tribunal de Modena, a estrutura da Energica ainda é adequada para manter a sua atividade. Isto representa uma potencial oportunidade para investidores interessados em revitalizar a marca ou em aproveitar o seu know-how tecnológico no setor da mobilidade elétrica.
Apesar da capacidade produtiva, os problemas financeiros da empresa foram profundos. Entre 2018 e 2023, a Energica nunca conseguiu gerar lucros, apesar do crescimento nas vendas. Os custos elevados em pessoal, investigação e desenvolvimento, bem como a aquisição de matérias-primas, superaram constantemente as receitas.
Em 2021, o fundo norte-americano Ideanomics adquiriu uma participação de 72% na Energica, retirando-a da bolsa Euronext Growth Milan em 2022. No entanto, esta injeção de capital não foi suficiente para evitar o colapso. Os custos operacionais elevados levaram ao encerramento definitivo da empresa no final de 2023.
A liquidação da Energica marca o fim de um capítulo importante na história das motos elétricas, mas o futuro da sua tecnologia ainda está por definir. O leilão poderá determinar se a marca renascerá sob uma nova gestão ou se o seu património será simplesmente disperso entre diferentes compradores. Resta agora aguardar para saber quem estará disposto a apostar na continuidade da Energica ou, pelo menos, no seu valioso legado tecnológico.