Acabado de conquistar o seu terceiro título do Mundial de Superbike com a BMW, aos 29 anos, Toprak Razgatlioglu prepara-se para entrar na elite do MotoGP. Mas será o turco o próximo grande fenómeno ou estará a Liberty Media a apostar alto num caminho potencialmente caótico?
Depois de, num golpe inesperado, a Yamaha ter ativado uma cláusula para descartar Miguel Oliveira, foi aberta a vaga para Razgatlioglu ingressar na Pramac Racing em 2026, onde partilhará a box com Jack Miller, recorrendo a um pacote técnico completamente novo — a M1 V4, uma mudança radical para a Yamaha como há muito não acontecia.
Razgatlioglu teve recentemente a oportunidade de testar o protótipo em sessões privadas em Aragão e novamente nos testes de Valência, onde terminou em 18.º lugar. Um resultado que, apesar de modesto na hierarquia da tabela de tempos, reveliu uma rápida adaptação do piloto à nova moto, provocando de imediato uma onda de comentários entre pilotos e fãs.
Fabio Quartararo, piloto de ponta da Yamaha, que inicialmente apresentara reservas sobre a transição de Razgatlioglu, mudou de opinião. Após ver o desempenho impressionante do turco, Quartararo afirmou: “Não falei com ele, mas vi que fez muito mais voltas do que todos nós, e isso surpreendeu-me. Vai-se sair melhor do que eu imaginava.” Tal elogio vindo de um rival experiente diz muito sobre o potencial de Razgatlioglu.
Manuel Puccetti, mentor de longa data de Razgatlioglu, não poupou palavras ao avaliar o futuro do seu protegido no MotoGP, sublinhando: “A prioridade é ser forte e rápido; caso contrário, tudo desmorona. Se for competitivo, Toprak pode tornar-se um trunfo extraordinário para a Liberty Media, capaz de gerar cobertura mediática global. Sem dúvida.” Chegou mesmo a afirmar que Razgatlioglu pode rivalizar com nomes como Marc Márquez se encontrar o ritmo certo.
E aí reside o ponto crucial — a Liberty Media procura uma nova superestrela capaz de cativar audiências. Depois de transformar a Fórmula 1 num fenómeno global, o gigante americano procura alguém que possa atrair uma base de fãs diversificada. Com o enorme público de Razgatlioglu na Turquia (e não só) e o seu estilo eletrizante, parece encaixar perfeitamente neste papel — desde que tenha resultados.
A perspetiva de um duelo Razgatlioglu versus Márquez é absolutamente deliciosa para os fãs. Um choque de gerações, estilos e filosofias de pilotagem! Os dois pilotos até trocaram algumas palavras por telefone antes da assinatura do turco, e a admiração é mútua.
Mas não há como esconder — os desafios são gigantescos. Márquez dominou a temporada de 2025, somando 25 vitórias em 36 corridas antes de uma lesão o travar. O seu desempenho com uma Ducati quase perfeita estabelece uma fasquia altíssima para qualquer estreante.
Razgatlioglu enfrenta uma curva de aprendizagem íngreme. A sua técnica de travagem em “stoppie”? Esqueçam — o MotoGP moderno exige um repensar completo. Para piorar as coisas, o projeto V4 da Yamaha deixou Quartararo desapontado após Valência, e Razgatlioglu encontrou uma máquina imprevisível que pode dificultar-lhe o caminho.
As dúvidas começam a surgir — não só entre os fãs, mas até mesmo entre engenheiros nos bastidores. A própria Liberty Media está a gerir expectativas, consciente de que este projeto ambicioso é um campo minado.
A estreia de Razgatlioglu chega num momento turbulento para a Yamaha, que luta com o desenvolvimento do novo motor V4, ainda à procura da potência necessária. Para ter sucesso, o piloto terá de ultrapassar uma série de obstáculos: uma moto ainda em fase de desenvolvimento, adaptação aos pneus Michelin, reinvenção do seu estilo de pilotagem, integração numa estrutura altamente exigente, um novo ‘crew chief’ depois de longos anos de colaboração com Phil Marren e parceria com o experiente Miller — tudo isto sob a intensa pressão de ser o novo “menino dourado” da Liberty Media.
Ainda assim, há quem acredite num milagre. Puccetti reforça: “Se for competitivo, Toprak pode tornar-se um fenómeno como Marc Márquez.” Assim, será que Toprak Razgatlioglu vai emergir como uma superestrela no MotoGP ou a sua estreia tornar-se-á o exemplo maior de uma aposta arriscada? Só o tempo dirá.
O palco do MotoGP está preparado para drama, emoção e talvez, mas só talvez, o nascimento de uma nova lenda.














